
'O Domingo Ilustrado', 13 de dezembro de 1925. Hemeroteca Digital.
Na impossibilidade de distinguir as originais das falsas, o Banco de Portugal retirou de circulação todas as notas desse montante, assegurando a sua troca.
'A Capital', 8 de dezembro de 1925. Hemeroteca Digital.
Assim se noticiava n’ A Capital, de 8 de dezembro:
“O controlo das notas de 500 escudos trocadas ontem naquela instituição de crédito [Banco de Portugal] deve estar feito, apesar do número delas (…) perfazer o número brutal de 34 800, visto terem sido trocados ontem 17 400 contos.”

"A Capital", 21 de dezembro de 1925. Hemeroteca Digital.
A origem desta situação estava na burla levada a cabo por Artur Alves dos Reis (1898-1955), administrador do Banco Angola e Metrópole, que encomendara 200 000 duplicados à empresa britânica Waterlow & Sons, responsável pela impressão das notas para o Banco de Portugal.
Em nome do Banco de Portugal, Alves dos Reis recorrera ao fornecedor oficial de notas, falsificando as assinaturas do governador e do vice-governador daquela instituição bancária.
Supostamente, as notas teriam, posteriormente, a sobrecarga Angola, destinando-se a circular naquela colónia. Essa era a justificação para a encomenda de notas com números de série já existentes em Portugal.
Através dos fundos obtidos com esta fraude, Alves dos Reis assegurara o financiamento do Banco Angola e Metrópole.
Detido em dezembro de 1925, Alves dos Reis foi condenado a 20 anos de prisão, em junho de 1930.
No dia 14 de dezembro de 1925, o Diário de Lisboa descrevia o ambiente no Parlamento em torno da burla de Alves dos Reis:
“A atmosfera política, toda ela originada nos sucessos que giram em volta do Banco Angola e Metrópole, era hoje na Câmara uma coisa que se cortava à faca. Em todos os grupos, em todos os partidos, não se falava noutra coisa, não se discutia outra coisa.”

"A Capital", 26 de dezembro de 1925. Hemeroteca Digital.
O caso foi amplamente debatido na Câmara dos Deputados, a partir dessa data, e manteve-se na ordem do dia até ao encerramento do Parlamento, na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926. Em discussão estavam também a responsabilidade do Banco de Portugal e a atuação do Governo no processo, assim como uma proposta de lei sobre o arrolamento dos bens do Banco Angola e Metrópole. Os socialistas apresentaram uma proposta para a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, rejeitada pelas restantes forças políticas, que defendiam a condução do caso pelo poder judicial.
O Chefe do Governo, António Maria da Silva, afirmava na sessão de
21 de dezembro:
"As investigações de atos puníveis, qualquer que seja a gravidade que os revista, serão feitas com ampla liberdade de ação para os investigadores, a quem o Governo dará sempre a assistência e prestígio indispensáveis. Esse será o seu procedimento perante os gravíssimos acontecimentos em que está envolvido o Banco Angola e Metrópole, os quais hão de esclarecer-se até final, sejam quais forem as responsabilidades a apurar."
Ver, entre outros, os debates de
14 de dezembro de 1925,
15 de dezembro de 1925,
16 de dezembro de 1925,
4 e 5 de janeiro de 1926,
22 de janeiro de 1926,
29 de janeiro de 1926,
2 de fevereiro de 1926,
3 de fevereiro de 1926,
4 de fevereiro de 1926,
5 de fevereiro de 1926,
8 de fevereiro de 1926,
9 de fevereiro de 1926,
10 de fevereiro de 1926,
19 de abril de 1926 e
21 de maio de 1926.
Ver, também, a
lei n.º 1873 – “Determina que a liquidação do Banco Angola e Metrópole, a sua administração e as indemnizações provenientes da responsabilidade civil que derivam do crime de fabrico e passagem de notas falsas, bem como de outros atos ilegais que com este crime se relacionem, sejam reguladas pelas disposições contidas na presente lei” e o
decreto n.º 11 908 – “Autoriza o Governo a celebrar um contrato com o Banco de Portugal” para a emissão de 100 000 contos para cobrir o desfalque.