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2022.03.24 | Sessão de Encerramento do Colóquio Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril | Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, Lisboa

Ontem à tarde, arrancaram as Comemorações do Cinquentenário do 25 de Abril, com uma Sessão Solene com a presença do Presidente da República.

Foi também o Presidente da República que abriu hoje este debate tão rico e interessante. Passaram 60 anos sobre o começo da crise estudantil de 1962 e do seu cortejo de cargas policiais, invasão das universidades, expulsões e prisões.

Ao longo do dia ouvimos alguns dos principais protagonistas desses dias de combate e repressão.

A análise está feita. Em 1962, a proibição do Dia do Estudante veio num momento imediatamente posterior ao começo das guerras coloniais.

No final dos anos 60 e início dos anos 70, a enorme contestação estudantil que varreu as universidades de Coimbra, Lisboa e Porto foi o estertor dessas guerras coloniais, tornado possível pelo 25 de Abril de 1974.

De 67 a 74, havia escolas onde a liberdade de expressão era total e outras em que gorilas e pides intervinham fortemente.

Para mim, foi um período extraordinário da vida, em que se afirmou a consciência política, a determinação na luta e a vontade das grandes assembleias de estudantes, RGAs, comícios, meetings e plenários.

A Ditadura perdeu nesses anos o controlo sobre muitas escolas e universidades.

A luta por um ensino livre, por um ensino aberto e plural estava associado às manifestações contra as guerras coloniais. Os estudantes sabiam que as ruas e os confrontos com PIDEs e outros agentes de repressão eram inevitáveis.

Da saída para os bairros mais atingidos pelas terríveis inundações de 67, às grandes manifestações em Coimbra e Lisboa em 68, das entradas da polícia de choque com cães em Económicas, ao assassinato de Ribeiro Santos nessa mesma escola, passando pelas prisões em massa nas manifestações, de tudo isto fui testemunha direta ou indireta.

Evidentemente que, à escala global, dos EUA, à Alemanha, Itália e França, passando pela América Latina e por países asiáticos, toda uma geração se levantava, e não apenas em Portugal.

No nosso País, a necessidade de mobilização pelas Forças Armadas, às vezes como castigo, noutras no calendário previsto, levaram essa geração para dentro dos quartéis e para África, o que teve uma importância ainda por reconhecer na madrugada do 25 de Abril.

Estar aqui hoje como Presidente da Assembleia da República a encerrar estes debates é para mim uma enorme honra.

Nesta que será a minha última intervenção pública como Presidente da Assembleia da República relembro as minhas primeiras intervenções em RGAs e plenários há 54 anos.

E devo dizer que, embora nessa altura nunca me tenha passado pela cabeça esta situação de hoje, nos últimos seis anos e meio pensei muito nas minhas origens e nas responsabilidades que tenho, não apenas perante os Portugueses, mas também perante a geração de que fiz parte.

Agradeço, pois, este momento.

Na minha vida política, houve excessos, mas sobretudo vontade de fazer pontes, debates e diálogo.

Agradeço ao Pedro Adão e Silva o convite para este momento. Agradeço a todos a vossa presença. Agradeço a Portugal, ao 25 de Abril e à Democracia todas as oportunidades que a vida me deu.

Que as Comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril sejam o grande sucesso que os Capitães do MFA e todos os que se opuseram à Ditadura merecem. Os vivos e os infelizmente já desparecidos.

Viva Portugal Livre! Viva a Democracia! Lutemos todos os dias pelo seu prestígio e a sua qualidade.

Obrigado e até sempre, Amigos, Amigas e Camaradas.


Eduardo Ferro Rodrigues

Presidente da Assembleia da República