02.12.2020 | Cerimónia de Entrega do Prémio
Norte-Sul do Conselho da Europa 2019 | Sala do Senado, Palácio de São Bento
Portugal está hoje de luto pelo falecimento de
Eduardo Lourenço, o professor, filósofo, crítico e ensaísta que ontem,
precisamente no dia da Pátria restaurada, nos deixou, na fragilidade dos seus
97 anos.
Eduardo Lourenço foi, sem dúvida, quem melhor
refletiu a identidade nacional, sobre o que é ser Português, sobre o que nos
diferencia enquanto Cidadãos e enquanto Povo à escala universal.
Sobre o que é saudade, num mundo em que tudo
parece efémero, e onde só a mudança parece permanente.
Nascido a 23 de maio de 1923, em São Pedro do Rio
Seco, Guarda – no interior profundo de Portugal –, Eduardo Lourenço de Faria
deixa um legado que vai muito além da vasta obra publicada, traduzindo-se na
intervenção de toda uma vida nas áreas da educação, da cultura e da cidadania,
justamente reconhecida por inúmeros prémios e condecorações, e, desde 2016 e de
forma tão simbólica, com o seu ingresso no Conselho de Estado, por indicação de
Sua Excelência o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – que não
poderá estar connosco precisamente por se encontrar, neste momento, a prestar a
derradeira homenagem do Estado e do Povo Português a Eduardo Lourenço, nas
Cerimónias Fúnebres que decorrem no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Em homenagem àquela que era uma das maiores
referências intelectuais da Lusofonia, e em memória de Eduardo Loureço, peço
que cumpramos um minuto de silêncio.
[Observou-se um minuto de silêncio.]
Muito obrigado.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Palavras de acolhimento para todos quantos nos
acompanham remotamente, através do Canal Parlamento, da Plataforma do
Conselho da Europa ou das Redes Sociais, impedidos de estarem connosco,
presentes fisicamente nesta Sala do Senado do Palácio de São Bento, sede da
Assembleia da República de Portugal, em cumprimento das apertadas regras que
foram determinadas para o funcionamento das nossas Instituições, no quadro do
Estado de Emergência que vigora em Portugal desde o passado dia 9 de novembro.
As circunstâncias extraordinárias com que estamos
confrontados, na decorrência de uma pandemia que não conhece fronteiras, não
impediram que afirmássemos a importância desta Cerimónia e o significado do
Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa.
Um Prémio que distingue duas personalidades, uma
do Norte, outra do Sul, pelo seu compromisso com os direitos humanos, a
Democracia e o Estado de Direito, contribuindo para o diálogo Norte-Sul,
fomentando a solidariedade, a interdependência e as parcerias – que, pela 25.ª
vez, é entregue na Assembleia da República de Portugal.
Embora com a presença de um número muito reduzido
de convidados e participantes, a Cerimónia de Entrega do Prémio Norte-Sul de
2019 foi possível, e é uma realidade, graças ao empenho das Instituições e
Entidades envolvidas, muito em especial de Sua Excelência o Presidente da
República, que, embora não possa estar presente, nos endereçou uma Mensagem.
Realizar esta Cerimónia num quadro de pandemia
generalizada tem, em meu entender, dois grandes significados:
- O da importância que Portugal atribui à
existência de um centro europeu para a interdependência e solidariedade global
– o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, criado em 1990, com sede na cidade
de Lisboa –, com o objetivo de promover o diálogo entre o Norte e o Sul,
fomentando a solidariedade e aumentando a consciência sobre a interdependência
global; e
- O do funcionamento permanente das nossas
Instituições democráticas, que a pandemia não encerrou, de forma alguma, antes
conduzindo a alterações no modo como as suas competências são exercidas ou na
forma como decorrem as suas atividades, de que esta Cerimónia é um bom exemplo.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A intervenção do Presidente da Assembleia da
República na Cerimónia de Entrega do Prémio Norte-Sul é, tradicionalmente,
apenas de acolhimento e de moderação.
Mas permitam-me que me dirija aos Laureados de
2019, Nabila Hamza, aqui presente, e Leoluca Orlando, que nos acompanha de
Palermo, e que aqui se faz representar pelo Senhor Embaixador de Itália, Carlo
Formosa.
Laureados que, depois Mary Robinson, Graça Machel,
Emma Bonino ou Simone Veil (recordando algumas das mulheres agraciadas com o
Prémio), Bob Geldof, Kofi Annan, Xanana Gusmão ou Joaquim Chissano (lembrando
homens de referência universal), veem reconhecido o seu compromisso com a
defesa dos direitos humanos e o Estado de Direito.
Em especial pelos direitos das mulheres, no caso
da Laureada Nabila Hamza.
Em especial pelos direitos dos migrantes, no caso
do Laureado Leoluca Orlando.
Defendendo ambos o princípio basilar do respeito
pelo nosso semelhante.
Duas referências nas suas comunidades pela
transformação que conduziram ao nível local e que ganharam escala e relevância
nacional – agora amplificada para um nível ainda mais vasto, pelo exemplo que
são para a Humanidade.
Afirmava Mário Soares, Antigo Presidente da
República de Portugal e Prémio Norte-Sul de 2000, que «(…) só é vencido quem
desiste de lutar».
Pela sua ação, diária e de há décadas, Nabila
Hamza e Leoluca Orlando demonstram-nos que ainda há, felizmente, quem não
desiste de lutar, que há ainda quem não se deixa vencer pela intolerância, pelo
medo, pelo ódio.
Que há quem não se canse de os combater, pelo
trabalho, pelo exemplo, pela positiva.
Em meu nome e no da Assembleia da República, órgão
representativo da sociedade portuguesa, na sua diversidade, muito obrigado.
Eduardo Ferro Rodrigues
Presidente da Assembleia da República