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07.01.2020 | Sessão de Apresentação da Obra Mário Soares o La Lucha por la Democracia | Biblioteca Passos Manuel, Palácio de São Bento

Começo a minha breve intervenção por saudar pessoalmente Maria Martha Esperanza – política, jurista, académica, editora, autora e tradutora –, que, desde há muito, se tem destacado na defesa e promoção da Cultura e da Língua Portuguesas, agradecendo a sua iniciativa de homenagear Mário Soares com a tradução de uma das suas obras de referência – Um Político Assume-seEnsaio Autobiográfico, Político e Ideológico – para a sua língua materna, o castelhano, e, claro está, de apresentar esta obra na Assembleia da República, Casa da Democracia que tanto deve ao saudoso Mário Soares.

Com a iniciativa de Maria Martha Esperanza, a figura e o exemplo de Mário Soares estão agora mais acessíveis às novas gerações de latino-americanos, e esta é, sem dúvida, uma das melhores formas de perpetuar o seu legado: o legado da palavra, pela palavra escrita.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Quando do desaparecimento de Mário Soares, em 2017, foi unânime a constatação de que a dimensão do seu legado era demasiado grande para não ser lembrada frequentemente.

Hoje, 7 de janeiro de 2020, a propósito da apresentação da tradução de uma das suas obras, somos firmes em concluir isso mesmo: que esta herança é tão forte que não será esquecida facilmente.

Hoje, três anos volvidos sobre o seu desaparecimento, é com o mesmo sentimento de saudade que recordamos Mário Soares, e a sua vida de militância desinteressada pela Democracia, por Portugal e pelos Portugueses, orientada por valores humanistas e princípios éticos e políticos que nunca abandonou, até ao último dos seus dias.

Uma vida intensa, corajosa, que o próprio resume, no Prefácio desta sua obra:

«Vivi e acompanhei intensamente quase todo o contraditório e complexo século XX e este começo incerto e tão problemático do atual. É uma reflexão sobre esse longo e conturbado caminho, com altos e baixos, acertos e desacertos, vitórias e derrotas, ao serviço do Povo Português, a que me honro pertencer, que vos ofereço neste livro: uma espécie de autobiografia política e ideológica».

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Neste Ensaio Autobiográfico, Político e Ideológico, Mário Soares dá a conhecer aquelas que foram as suas escolhas e as causas que liderou: a Democracia, a descolonização, a Europa e a integração europeia, a abertura ao mundo.

No essencial, o percurso de Mário Soares está todo aqui:

- coerente e forte contra a ditadura e a guerra colonial;

- transparente quando tentou uma frente de esquerda que se revelou impossível em 74;

- corajoso quando se aliou com todos os que temiam uma nova ditadura em 75; 

- Primeiro-Ministro com tolerância democrática nunca vista em 76-78;

- combatente por Portugal em 83-84 no Bloco Central;

- extraordinário Presidente da República, e de todos os Portugueses, entre 86 e 96;

- crítico implacável do seu Partido de sempre, o PS;

- pioneiro nos alertas sobre as consequências da globalização, sobre as disparidades entre o Norte e o Sul da Europa, sobre os riscos de desintegração da União Europeia, sobre os resultados das políticas de austeridade com disciplina imposta.

Do lado do Portugal do constitucionalismo, do liberalismo, da República, dos ideais democráticos, contra o Portugal absolutista, conservador, tradicionalista e autoritário.

Sempre coerente e consequente.

Sempre corajoso, sempre presente, nos momentos bons e nos menos bons.

Sempre fiel às suas causas.

Sempre com o espírito de permanente insatisfação democrática que o caracterizava.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Maria Martha Esperanza dizia-nos há uns anos que, quando leu este livro, viu que o mesmo daria um grande filme. 

Podia perfeitamente sê-lo.

O filme de uma vida, de que Mário Soares foi autor e protagonista.

Uma vida que mudou a nossa vida coletiva – o que só está ao alcance de poucos, dos grandes, como grande era Mário Soares.

Mário Soares foi um desses raros homens capazes de mudar as nossas vidas.

E não é a sua vida que se confunde com a história da segunda metade do século XX português.

É precisamente o contrário: é a segunda metade do século XX português que se confunde com a ação de Mário Soares.

O País que hoje somos é o País com que Mário Soares sonhou: um Portugal Democrático, Europeu e aberto ao mundo.
Muito obrigado.

Eduardo Ferro Rodrigues
Presidente da Assembleia da República