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​01.07.2021 | Homenagem a Eduardo Lourenço | Salão Nobre, Palácio de São Bento

É com o maior gosto que me associo ao lançamento do mais recente número da Revista Finisterra, na sequência do convite que me fizeram o Presidente e o Diretor Executivo da Fundação Res Publica, os meus amigos Pedro Silva Pereira e José António Vieira da Silva (de longa data), a quem agradeço tão amável gesto. 

Mais ainda quando este lançamento cumpre dois propósitos distintos: o de assinalar o aniversário da Fundação Res Publica e o de homenagear Eduardo Lourenço, fundador e diretor da Finisterra até ao seu falecimento, em dezembro de 2020. 

Recordando, assim, a fusão, em 2008, das Fundações José Fontana e Antero de Quental, a que muito deve o Partido Socialista, numa nova instituição, a Res Publica, dedicada ao pensamento político e às políticas públicas, inspirada nos valores e nos princípios em que assenta o socialismo: a liberdade, a igualdade, a justiça, a fraternidade, a dignidade humana e os direitos humanos. 

Mas a Assembleia da República abre hoje as suas portas sobretudo para recordar Eduardo Lourenço, quer pelos testemunhos de Fernando Pereira Marques, Guilherme d'Oliveira Martins, Joaquim Jorge Veiguinha ou Lídia Jorge na edição da Finisterra que é hoje lançada – revista que Eduardo Lourenço dirigiu desde 1989 –, quer pela evocação que dele fazemos nesta Sessão. 

Amigos que o recordam com saudade. 

Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

Como tive oportunidade de referir no Voto de Pesar que subscrevi logo após o seu falecimento – e que a Assembleia da República aprovou por unanimidade –, Eduardo Lourenço, de uma envergadura intelectual sem paralelo, foi, sem sombra para dúvidas, um dos maiores pensadores que Portugal e a Lusofonia já conheceram. 

Quem melhor refletiu a nossa identidade, o que é ser-se Português, o que é Portugal além da simples expressão territorial. 

Sobre o destino mítico desta pequena grande Nação e do seu Povo. 

Sobre saudade, sem saudosismos – ou tentações saudosistas. 

Sobre as grandezas do passado; sobre as ilusões da grandeza do passado.

Quem, deixando-nos – qual destino – no dia em que celebra a independência recuperada (1.º de dezembro), melhor pensou o que significa, precisamente, a independência. 

Nascido em 1923, Eduardo Lourenço viveu metade da sua vida em ditadura, 48 anos em sombra e escuridão, e nem por isso deixou de se demarcar do regime, que criticou, ajudando a abrir horizontes democráticos ainda antes de se sonhar Democracia. 

Foi um cidadão do mundo, percorrendo Alemanha, Brasil, Itália e França, nunca esquecendo as suas origens. Beirão, primeiro que tudo. Português, que tanto o orgulhava. De que tanto nos orgulhávamos. 

Português que conhecia bem as imperfeições do seu Povo, que sabia identificar como poucos. 

Talvez por isso tenha sido tantas vezes incompreendido, pelo pensamento cristalino e pela forma redutora como era visto e como era lido – como nos recordava há dias o Professor Guilherme d'Oliveira Martins. 

Mais do que as minhas palavras, serão as palavras dos oradores que se me seguem que melhor nos ajudarão a compreender quem foi Eduardo Lourenço, e a perda  irreparável para Portugal e para a Lusofonia que foi o seu desaparecimento – cuja memória hoje evocamos, da mesma forma modesta e serena como viveu a sua vida. 

Muito obrigado. 

Eduardo Ferro Rodrigues 

Presidente da Assembleia da República