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11.11.2020 |  Presidente da Assembleia da República homenageia Gonçalo Ribeiro Telles

Ausente da vida pública há alguns anos, o Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles deixa-nos hoje, aos 98 anos, uma notícia que muito me entristece.
 
Tinha pelo Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles a maior admiração e estima.
 
Cresci a ouvir os seus ensinamentos, que, no exercício das funções públicas que fui exercendo nas últimas décadas, sempre reputei da maior relevância.


Desde muito jovem que acompanhei o seu percurso, especialmente após as grandes cheias de Lisboa, em novembro de 1967 – tragédia que tantas vidas ceifou, que Salazar quis esconder e contra a qual Ribeiro Telles se insurgiu na televisão, apontando o desordenamento como causa direta do sucedido. Um momento que marca o início da minha vida política.
 
Foi fundador do Partido Popular Monárquico, em representação do qual integra os I, II e III Governos Provisórios, como Subsecretário de Estado do Ambiente, e o I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, como Secretário de Estado da mesma pasta.
 
É intensa a atividade que aí inicia: integrando a Aliança Democrática em 1979, é por esta eleito para a Assembleia da República nesse mesmo ano, e, novamente, em 1980 e em 1983. No Parlamento, deixa uma marca inquestionável, na Lei de Bases do Ambiente, na Lei da Regionalização, na Lei Condicionante da Plantação de Eucaliptos, na Lei dos Baldios ou na Lei da Caça.
 
Entre 1981 e 1983, integra o VIII Governo Constitucional como Ministro de Estado e da Qualidade de Vida.
 
Afastado do Partido Popular Monárquico, regressa à Assembleia da República em 1985, como Deputado Independente eleito nas listas do Partido Socialista.
 
Foi graças ao Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles que, em Portugal, se começou a ouvir falar de paisagismo, de estrutura verde, de corredores ecológicos – ainda nos anos 50 e 60, muito antes destes temas se tornarem correntes, visionário que era e sempre foi.
 
É graças ao Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles que Portugal dispõe hoje de uma rede, não tão integrada quanto o foi nos remotos anos 80, de áreas dedicadas à salvaguarda da estrutura ecológica e à proteção de solos – a Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional.
 
A assinatura do Mester da Paisagem está um pouco por todo o lado: dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian (com Viana Barreto) ao Plano Verde de Lisboa, passando pelo corredor ecológico que liga Monsanto à Serra da Carregueira e à Serra de Sintra, ou pelo Jardim que projetou para a Expo’98.
 
O seu legado é imenso, e é imensa a marca que, em 98 anos de uma vida intensa, nos deixa o Arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, na sua cidade de Lisboa e no País que tanto o admirava.
 
Personificou, até ao seu falecimento, A Utopia com os Pés na Terra – título de uma obra que aborda, precisamente, o ideário de Ribeiro Telles.
 
Os Portugueses perdem hoje uma das suas grandes referências, em homenagem à qual a bandeira da Assembleia da República ficará amanhã, simbolicamente, a meia-haste.
 
À sua Família e Amigos, endereço, em meu nome e em nome da Assembleia da República, as mais sentidas condolências.
 

Eduardo Ferro Rodrigues

Presidente da Assembleia da República