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Nova arte de prevenir e curar a tuberculose


Nova arte de prevenir e curar a tuberculose


CUTILEIRO, Evaristo – Nova arte de prevenir e curar a tuberculose: tratamento abortivo e curativo de varias doenças infeciosas por um novo meio d’imunisação. Évora : Minerva Comercial, 1913. 32 p. Cota: 100/13.

A História da Medicina tem sido marcada por constantes desafios e por constantes progressos, ainda que nem sempre ao ritmo desejável face à urgência das crises sanitárias. Até ao início do século XX, uma das principais ameaças à saúde pública era a tuberculose, doença altamente contagiosa, transmitida por via aérea, através dos atos quotidianos de tossir, falar, espirrar ou cuspir. Endémica entre as classes urbanas mais desfavorecidas, constituía uma das principais causas de morte. Em França, em 1918, era ainda responsável por uma em cada seis mortes. O bacilo causador da doença – Mycobacterium tuberculosis – foi descrito em 1882 por Robert Koch. Uma primeira esperança no tratamento da doença surgiu em 1905, novamente pela ação de Koch, laureado nesse ano com o Prémio Nobel da Medicina. A tuberculina, contudo, não se revelou eficaz. Novo avanço no combate à doença surgiu em 1906, no Instituto Pasteur, onde Albert Calmette e Camille Guérin desenvolveram a vacina que ficaria conhecida como BCG (Bacilo Calmette-Guérin).

É neste contexto de combate a uma doença sem cura nem prevenção conhecidas que surge o estudo que hoje apresentamos, Nova arte de prevenir e curar a tuberculose: tratamento abortivo e curativo de varias doenças infeciosas por um novo meio d’imunisação, da autoria do médico alentejano Evaristo Cutileiro e que pode ser consultada, em formato digital.

Evaristo José Cutileiro nasceu em Évora, em 19 de novembro de 1864. Morreu no Sanatório da Covilhã, em 9 de setembro 1913, ano de edição do livro que hoje destacamos. Médico formado na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, republicano, foi diretor do semanário “A Voz Pública”, publicado em Évora desde 1904. Em 1907, foi eleito presidente da primeira Comissão Municipal Republicana. Em 1910, foi candidato republicano, por Évora, à Câmara dos Deputados. Dá nome a um largo na cidade em que nasceu.

O autor escreve com a propriedade de quem “tem perscrutado o desenvolvimento da infeção geral do bacilo de Koch em mais de 1500 casos, durante 6 anos sucessivos”. A prática clínica permitiu-lhe concluir que as variações anormais de peso dão testemunho da “diminuição de capacidade de resistência vital do conjunto do organismo” sendo que por elas se deve determinar “o momento oportuno da intervenção pelo agente imunizante”, causa primeira da eficácia do tratamento.  Daí a importância da pesagem regular, antes das refeições, e posterior registo em “cadernetas de pesagens, chamadas Kalendários da Saúde”, que podiam ser requisitadas ao autor. O tratamento “Anti-tuberculose”, preparado antissético e inalterável, era vendido em caixas de ampolas, distribuído por Raposo, Sobrinho, com depósito no Largo de São Julião, n.º 10-11, em Lisboa, e podia ser encomendado em qualquer farmácia. Ministrado em dose vacínica por via hipodérmica, era apresentado como um aliado no combate a um leque bem mais extenso de doenças, sendo, de acordo com o autor, um “remédio imunizante contra a tuberculose, difteria, carbúnculo, febre tifoide, gastroenterite infantil, antraz, fleimão, pneumonias, etc., restando-nos ainda ensaiar o valor imunizante deste remédio na peste, na cólera, na doença do sono, etc.”, estando já comprovado como “nulo o efeito deste remédio na sífilis e na infeção palustre [paludismo]”.

A utilização em humanos da vacina BCG, de Calmette e Guérin, iniciou-se em 1921. O tratamento por antibiótico, com estreptomicina, surgiu apenas em 1946, mas o aparecimento de estirpes resistentes aos antibióticos impediu a total erradicação da doença. Por outro lado, a eficácia variável da BCG fez com que, em vários países (entre os quais Portugal, desde 2016) se alterasse nas últimas décadas o paradigma vacinal, com vacinação limitada aos grupos de risco em detrimento da vacinação universal. Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde, estima-se a existência de cerca de 10 milhões de casos de tuberculose ativa – número que se tem mantido estável nos últimos anos – resultando em cerca de 1,5 milhões de mortes em todo o mundo.