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Ultimato britânico (1890)

Mapa cor de rosa

 

  

O Ultimato britânico de 1890 contra as pretensões portuguesas em África provocou um movimento social e político de exaltação patriótica e de contestação da Monarquia. Marcava o fim do pretendido “mapa cor-de-rosa”, que uniria Angola e Moçambique, sob a soberania de Portugal.

No final do século XIX, os países europeus disputam o continente africano, fonte importante de matérias-primas e riqueza.

A Conferência de Berlim, em 1884, reúne as principais potências com interesses em África, determinando a ocupação efetiva como critério para a posse dos territórios.

Portugal intensifica a realização de viagens exploratórias e operações militares, visando a conquista dos territórios entre Angola e Moçambique, com base no plano do “mapa cor-de-rosa”. Alemanha e França comprometem-se a não intervir naquela área, mas o Reino Unido opõe-se ao projeto, pois pretendia levar a cabo uma ligação ferroviária entre a África do Sul e o Cairo.

Em 11 de janeiro de 1890, o Reino Unido lança um ultimato a Portugal, exigindo a retirada militar dos territórios entre Angola e Moçambique, sob a ameaça do rompimento de relações entre as duas nações europeias.

O Governo português, com o apoio do rei D. Carlos, cede de imediato ao Ultimato, gerando reações nacionalistas e antibritânicas, assim como um movimento de contestação à Monarquia.

No Parlamento, as respostas à ação do Governo, que entretanto se demitira, multiplicam-se.

Na sessão de 15 de janeiro, o Deputado Dias Ferreira declara:

“Se eu fosse membro do governo, só depois da esquadra inglesa entrar de morrões acesos nas águas do Tejo, e intimar o bombardeamento de Lisboa, ou depois de ocupar violentamente S. Vicente, Lourenço Marques ou qualquer outra região portuguesa, é que cederia, porque cedia à força, contra a qual não há resistência.

A nação portuguesa tem que ceder à força, mas não pode nem deve ceder ao medo.”

António José de Almeida, jovem estudante em Coimbra, escreve nas páginas d’ O Ultimatum, de 23 de março de 1890, o artigo “Bragança, o último”, que o levaria a ser condenado a três meses de prisão:

“A 11 de janeiro, o Ultimatum do inglês; e o rei que até aí era um simples larápio, passou a ser, na boca das folhas revolucionárias, um grande gatuno; ele que até aí possuía uma inteligência medíocre, passou a ser simplesmente um bruto; ele que até aí exibia, no seu descoco de pedante, uma educação deficiente, passou a ser um pacóvio (…)”.

Os ingleses tornaram-se alvo de perseguição, com a imprensa a incentivar o ódio pela Grã-Bretanha. “Nas lojas de Lisboa, não se vendia a ingleses; nos alfaiates, não se costuravam figurinos ingleses; nas docas, não se descarregavam barcos ingleses; nos hotéis, não havia quartos para ingleses. A revista High Life foi rebatizada ‘portuguêsmente’ Alta Sociedade, ao mesmo tempo que a palavra ‘inglesada’ passou a ser sinónimo de ‘roubo’”.(1)

Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça compõem A Portuguesa, um manifesto de nacionalismo e de resistência aos britânicos, que será adotado como Hino Nacional após a Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910.

A crise do Ultimato terminaria, formalmente, em 1891, com a ratificação pelo Parlamento de um tratado anglo-luso, mas marcaria o final do regime monárquico em Portugal e a emergência do movimento republicano.


(1) Sardica, José Miguel, “Ultimato britânico”. Dicionário de História da República e do Republicanismo. Volume 3, Lisboa, Assembleia da República, 2014, p. 1029-1030.