Bem-vindo à página oficial da Assembleia da República

Digitalização dos Requerimentos, Representações e Petições dirigidas às Cortes durante a Monarquia Constitucional e Transcrição automática destes documentos com recurso a tecnologia de Inteligência Artificial

​ O Arquivo Histórico Parlamentar (AHP) está também a desenvolver um projeto de transcrição automática de documentos manuscritos, que tem como base tecnologia que recorre à Inteligência Artificial (AI).

​​

Trata-se de documentação que está registada na nossa base de dados, mas que não foi ainda descrita, pelo que não é conhecido o conteúdo concreto de cada um dos documentos. Perante o desafio de descrever esta massa documental, resolvemos testar até que ponto a tecnologia disponível no campo da transcrição automática poderia ser uma mais-valia para esta tarefa. Foi assim que surgiu a ideia de usar um programa que recorresse à Inteligência Artificial.

​​

No caso, o AHP está a usar o software Transkribus, um programa criado pela cooperativa Read Coop, que junta universidades, institutos públicos e entidades públicas e privadas de toda a Europa. O software usa tecnologias de AI, que têm como grande mais-valia o facto de a qualidade da transcrição se ir aperfeiçoando, à medida que vão sendo adicionados novos documentos. A máquina (no caso, o algoritmo) aprende a reconhecer a caligrafia, tornando os resultados mais fidedignos, à medida que 'conhece' novos documentos e novos estilos de escrita.

Após um contacto com a Read Coop, em fevereiro de 2024, instalámos o software nos nossos computadores e começámos a transcrição automática dos requerimentos e representações dirigidos à Câmara dos Deputados entre 1822 e 1910.

​​

O objetivo deste projeto será usar a transcrição automática extraída com o programa Transkribus como o primeiro passo para criar uma descrição de cada um dos documentos, tarefa essa que também poderá ser feita recorrendo a aplicações de AI generativa. O objetivo é que seja possível, num intervalo temporal muito mais reduzido do que a tradicional análise feita por arquivistas, termos uma ideia precisa do que está escrito em cada um destes documentos.

​​

De relevar que, para o desenvolvimento deste projeto, temos contado com a ajuda inestimável do professor Hervé Baudry, membro do CHAM - Centro de Humanidades (CHAM - NOVA FCSH). O investigador conduziu um projeto pioneiro na área da transcrição automática em Portugal, o TraPrInq​. Partindo de milhares de documentos manuscritos da Inquisição Portuguesa, dos séculos XVI a XIX, este projeto levou à criação de um modelo de reconhecimento de texto e​m língua portuguesa que tem servido de base para o trabalho desenvolvido no AHP.

O projeto do AHP vai continuar durante os próximos meses. Conseguimos, até ao momento, alguns resultados promissores, mas o uso da tecnologia obriga a um exaustivo trabalho de “treino" do algoritmo para o reconhecimento de texto manuscrito. É essa tarefa de aprendizagem, tanto da máquina co​mo dos arquivistas que com ela trabalham, que estamos a desenvolver. ​

Não é demais realçar a importância dos projetos acima apresentados, pois eles são realmente a materialização do futuro do AHP e dos Arquivos em geral, que segue um caminho de acesso imediato à informação de modo eletrónico e sem a presença física dos utilizadores no espaço do Arquivo. Até ao presente, os arquivistas acumulavam, por vezes, a função de paleógrafo, ajudando alguns utilizadores a ler e a interpretar os documentos. Com este novo recurso (e num futuro próximo), não obstante todo o trabalho que tem que ser feito a priori (de treino do software e de correção das transcrições e descrições efetuadas automaticamente), os utilizadores passarão a ter acesso remoto ao documento original digitalizado, à sua transcrição integral e à sua descrição.

Autor​ia: Ana Margarida Rodrigues, José Carlos Marques e Rita Labareda (AHP)