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​25.06.2025 | Comemoração do bicentenário da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto | Porto


Senhor Reitor da Universidade do Porto, Professor Doutor António Sousa Pereira,

Senhor Diretor da Faculdade de Medicina, Professor Doutor Altamiro da Costa Pereira,

Caros docentes, estudantes, colaboradores e antigos alunos,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

 

Celebramos duzentos anos de ensino da Medicina em Portugal.

Duzentos anos de serviço ao conhecimento, à saúde e ao país.

Duzentos anos. Parece muito tempo. E é!

Sobretudo num país onde as instituições, tantas vezes, não resistem ao teste do tempo. Quer quanto à sua duração, quer quanto à preservação da excelência do seu mérito.

Desde a sua fundação, esta faculdade atravessou grandes ciclos da História nacional. Da Monarquia Constitucional à Primeira República, da Ditadura à Democracia.

 

Quatro regimes. E, com cada um, um novo país, uma sociedade em mudança e novos desafios. Nas modas e nos costumes. Na tecnologia e nas leis. Nos medos e nas expectativas.

 

Mas esta faculdade não resistiu, apenas.

Esta faculdade acompanhou, adaptou-se, transformou-se — sem nunca abdicar da sua missão. Acompanhou mudanças profundas: nos costumes e na ciência, nas leis e na tecnologia, nos valores, nas angústias e nas esperanças de cada geração.

E importa perguntar: porquê?

Não sobreviveu, apenas, por ser antiga. Nem por ter muito prestígio. O que não falta são instituições antigas e prestigiadas, que acabaram por desaparecer.

A Faculdade de Medicina permaneceu, porque soube adaptar-se. Soube manter a sua missão original. A sua razão de ser. Os seus princípios. Ser coerente com os seus valores mais profundos, mais do que ceder às modas tantas vezes superficiais e efémeras da circunstância.

Nos tempos que correm, tudo isto, só por si, já não seria coisa pouca.

Mas a Faculdade também soube caminhar com os tempos. Abrir-se à sociedade. Fazer reformas. Mudar quando foi preciso.

Adotou novas técnicas. Novos métodos.

Aliou o ensino à investigação médica e à ética do cuidado.

Modernizou as respostas.

Procurou, em cada tempo, os melhores professores.

Preservou em ver os pacientes como pessoas dignas e inteiras. Numa sociedade onde, não raras vezes – diria até, demasiadas vezes – se esquece o lado humano das pessoas e se dá mais atenção à sua quantificação para efeitos estatísticos.

Duzentos anos depois, a Faculdade de Medicina permaneceu, mudando. E mudou, permanecendo.

 

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

O que aqui celebramos, neste dia, deveria ser normal.

Deveria ser normal que as nossas instituições se atualizassem, sem perderem o sentido do essencial. Que as instituições não adormecessem à sombra do seu prestígio, mas que procurassem sempre ser relevantes. Ser úteis. E responder aos anseios das pessoas.

Deveria ser normal que as universidades e os agentes culturais vivessem de portas abertas para a cidade. Não apenas para ensinar, mas também para ouvir. E que as pessoas comuns – os cidadãos – sentissem as instituições como suas. Nunca como blocos fechados. Ou como propriedade exclusiva de alguém. Porque a exclusividade da pertença é de todos!

Deveria ser normal este espírito que aqui se respira.

O espírito que faz com que uma Faculdade de Medicina celebre duzentos anos, não a evocar o passado, mas a discutir o futuro.

O espírito que faz com que, desta casa, tenham saído tantos e tantos médicos. Mas também cientistas e investigadores. Artistas e filósofos. Escritores, ministros e autarcas. Pessoas que sabem de Medicina, mas também de outras áreas.

Pessoas que exercem o seu trabalho, mas também têm um olhar sobre a sociedade e o seu futuro. Um olhar sobre o bem comum.

Penso, entre outros, em Ricardo Jorge. Abel Salazar. Daniel Serrão. Walter Osswald. Sobrinho Simões. Alguns exemplos de nomes que marcaram – e marcam – a cidade do Porto e o país como um todo.

Pessoas comprometidas com a comunidade. Que, com a sua intervenção cívica, exerceram – e exercem – de forma exemplar a cidadania, pedra angular de uma convivência coletiva assente no rigor, na moderação, na sã dialética e no absoluto respeito pelo outro.

A todos eles, devemos muito!

 

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto é hoje um centro de referência nacional e internacional.

Não o digo, para que se exiba com vaidade esse estatuto. Mas porque sei que isso constitui um incentivo para que continuem a trabalhar para o merecer.

Vivemos, hoje, novos desafios:

A aposta na investigação científica e na inovação médica.

A preservação da relação entre médico e doente.

A importância da saúde mental – e o reconhecimento de que a pessoa humana é um ser inteiro, que deve ser olhado de forma holística.

A urgência de acompanhar os progressos da tecnologia com uma reflexão ética mais exigente.

Olho para esta instituição, em dia de bicentenário. Para a sua História e para todos os que hoje lhe dão vida. E tenho a certeza de que estão à altura destes e de outros desafios.

 

Termino, por isso, com uma palavra sentida de reconhecimento a todos os que, ao longo destes dois séculos, moldaram esta Faculdade — fundadores, docentes, investigadores, funcionários, estudantes. Todos.

E um apelo às novas gerações: recebam este legado com orgulho, mas com a ousadia de o renovar e fazer crescer.

O espírito que aqui se vive não é apenas um bom sintoma. É mesmo, se fizermos por isso, o princípio da cura.

 

Muito obrigado!

Disse.​​